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Sobre o envelhecer



Apesar de eu ainda não ter vivido a experiência da velhice em meu próprio corpo, sinto de falar um pouco sobre o processo do envelhecer... sobre essa fase da vida quando, em geral, a vitalidade do corpo está em declínio; quando a agilidade, a força e a vitalidade físicas já estão consideravelmente reduzidas; e em muitos casos quando o sentimento de dependência começa a ameaçar. Afinal, dirigir um carro passa a ser mais desafiador, carregar sacolas pesadas ou mesmo experiências primárias como ouvir e enxergar. Recentemente, estive por cerca de 1 hora conversando com a minha avó, que está vivendo esse declínio da saúde física de forma bastante intensa. Diagnosticada com Parkinson, já não consegue fazer muitas das coisas que deseja.


Com frequência, busco ter em mente a natureza como referência e amiga. Assim, percebo o envelhecer como um caminho natural, que faz parte do processo da vida. A morte precisa chegar e ela muitas vezes virá assim, por meio da redução progressiva da vida do corpo. Enquanto somos jovens, é possível passar bastante tempo sem lembrar que a morte virá. Já na idade adulta ou mesmo na velhice, fica cada vez mais frequente a notícia de um ente ou amigo que falecera, dificultando com que o tema seja ignorado por muito tempo. Refletindo sobre esse assunto, passou por mim o desejo de incitar e facilitar essa expressão, essa emoção, essa reflexão... E nessa direção brotaram de mim os seguintes versos:



Que virtudes da alma são convocadas ao envelhecer e depender,

Depois de toda uma vida dedicada a autonomia engrandecer?

Em que altura é preciso o seu medo da morte gritar

para que possa ser acolhido e permitido escutar?

Nessa fase da vida quando está em seu ápice de sabedoria,

Inspire-se a caminhar o final da trilha com alegria...

Acolha e receba o que esse momento tem pra te dar

Certamente há tesouros pra alma, é preciso enxergar.

Acredito ser fundamental abrirmos espaço (interno e externo) para falar do medo da morte, do sentido da vida, assim como do medo da vida e do sentido da morte. Desejo que os idosos possam ser mais acolhidos e até (porque não) auxiliados a conseguir falar desse tema. Para além da necessidade de "ocupar o tempo e se distrair", que é uma das preocupações mais comuns hoje em dia, enxergo a necessidade de poder mergulhar dentro de si, em direção ao mistério da vida e da morte. Para esse mergulho, pode ser de grande valia uma mão para segurar e um peito para abraçar... Que possamos ser cada vez mais ser mão e peito disponíveis às pessoas ao nosso redor. Que possamos acolher o nosso não saber, a falta de certeza, o medo e também a dor. E que possamos cuidar do corpo , mas também das questões da alma, dos sentimentos, dos pensamentos que passam por nós.

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